O Brasil, um gigante no cenário mundial de produção de cana-de-açúcar, tem uma longa história e experiência na canavicultura. A economia canavieira se estabeleceu como um pilar crucial para o país, não só pela produção de açúcar, mas pelo setor sucroenergético, responsável por transformar essa matéria-prima também em etanol, energia e outros subprodutos.
Nos gráficos abaixo, é possível notar a evolução da canavicultura brasileira nas últimas safras.
A safra 2022/23 foi marcada por baixos índices pluviométricos e baixas temperaturas na região Centro-Sul, além de ter sofrido uma pequena redução na área cultivada. Ainda assim, o cenário climático foi mais favorável que na safra anterior e proporcionou, segundo dados da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), uma produção de 610,8 milhões de toneladas, que é 4,4% superior em relação à safra 2021/22, e uma produtividade de 73.655 kg/ha, 4,7% maior à obtida na temporada anterior.
Para a safra 2023/24, as projeções da companhia apontam aumento de produção e produtividade, impulsionado por condições climáticas ainda melhores. Os resultados nas lavouras impactam diretamente a moagem nas usinas e, consequentemente, toda a economia canavieira, influenciando preços, subprodutos e a rentabilidade do produtor rural.
Detalhes do andamento da safra de cana-de-açúcar 2023/24
Conforme o segundo levantamento do Acompanhamento da safra brasileira de cana-de-açúcar da Conab, a safra 2023/24 de cana-de-açúcar no Brasil apresenta otimismo, com uma expectativa de crescimento de 6,9% em relação à safra anterior, alcançando 652,9 milhões de toneladas. Mesmo com uma leve redução na área de cultivo, as condições climáticas favorecem uma boa produção.
- Região Sudeste: é o principal produtor, concentrando 63,1% da produção. Mesmo com uma redução na área cultivada, há uma expectativa de crescimento de 6,3% em relação à safra passada. O rendimento médio é estimado em 81.495 kg/ha, impulsionado pelo clima favorável e pela renovação dos canaviais.
- Região Centro-Oeste: a previsão é que 142,7 milhões de toneladas sejam destinadas ao setor sucroenergético. Tanto a área quanto a produtividade deverão apresentar acréscimos, com resultados estimados de 79.601 kg/ha.
- Região Nordeste: com uma estimativa de 58,5 milhões de toneladas, a região continua expandindo sua área cultivada e recuperando áreas anteriormente utilizadas. A produtividade deverá ter um acréscimo de 0,6% em relação à safra anterior.
- Região Sul: espera-se uma produção de 35,5 milhões de toneladas, com um aumento de 3,7% na área de cultivo. A produtividade tem um expressivo crescimento, estimado em 10,5% e alcançando 71.953 kg/ha.
- Região Norte: com um incremento previsto de 5,4% em comparação à safra anterior, a região deve produzir 4,03 milhões de toneladas. Os investimentos em manejo e renovação devem resultar em uma produtividade de 83.211 kg/ha.
No que diz respeito à qualidade da produção da safra de cana 2023/24, a estimativa de ATR (Açúcar Total Recuperável) médio, de acordo com a Conab, é de 132,2 kg/t, 0,9% inferior ao da safra passada. Já em relação ao andamento da moagem, no Centro-Sul, 493,09 milhões de toneladas foram processadas no acumulado da safra 2023/24, representando um aumento de 14% em relação à safra 2022/23, de acordo com dados da Unica.
Em resumo, o Brasil segue fortalecendo sua posição como líder na produção de cana-de-açúcar, com melhorias constantes em rendimento e técnicas de cultivo.
Dinâmica da economia canavieira para a safra 2023/24
O setor sucroalcooleiro brasileiro é altamente flexível e pode se adaptar rapidamente às mudanças nas condições de mercado, alterando o mix de produção entre açúcar e etanol. Essa adaptabilidade é crucial para aproveitar as oportunidades de mercado e maximizar os retornos.
Na tabela abaixo, é possível verificar os dados acumulados da safra de cana 2023/24 em relação à produção da cultura e seus subprodutos:
Fonte: Acompanhamento quinzenal da safra na região Centro-Sul – Unica.
Açúcar: um mercado aquecido
O início da colheita da cana-de-açúcar já demonstrou que o mix de produção está inclinando-se fortemente para o açúcar. A produção é estimada em impressionantes 40,9 milhões de toneladas, o que representa um acréscimo de 11,1% em comparação à safra anterior. Isso pode ser visto em todas as regiões do Brasil, marcando a safra 2023/24 como a segunda maior produção de açúcar na série histórica da Conab.
Diversos fatores estão direcionando essa tendência:
- Contratos de venda: contratos firmados antecipadamente dão uma certa segurança para esse direcionamento na produção.
- Competitividade do etanol: com o etanol tornando-se menos competitivo em comparação à gasolina na maioria dos Estados brasileiros, o açúcar emerge como uma opção mais atraente.
- Demanda externa: o mercado internacional para o açúcar brasileiro permanece robusto. Muitos dos principais concorrentes do Brasil no mercado global de açúcar têm enfrentado dificuldades em aumentar suas ofertas, tornando o açúcar brasileiro ainda mais atrativo.
A dinâmica da economia canavieira para a safra 2023/24 reflete uma adaptabilidade e uma resposta às condições de mercado. Com um mercado externo aquecido para o açúcar e contratos firmados antecipadamente, os produtores encontraram no açúcar uma opção lucrativa.
Etanol: lugar garantido no mix de produção
Ainda assim, o aumento geral na produção de cana-de-açúcar possibilita que o etanol mantenha seu espaço como o principal ator da necessária transição energética global, garantindo uma produção significativa e complementando o mix de produção.
O principal produto nessa categoria será o etanol hidratado, com uma produção projetada 5,7% superior à safra passada. O etanol anidro, por sua vez, deverá ter um aumento de 2,9%. Ao todo, a produção esperada é de 27,72 bilhões de litros de etanol oriundo da cana-de-açúcar, subdividido em 16,08 bilhões de litros de etanol hidratado e 11,64 bilhões de litros de etanol anidro.
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Perspectivas para o mercado de etanol
O mercado de etanol vem passando por mudanças significativas, com destaque para a sua relevância crescente no cenário energético global. A produção de etanol a partir da cana-de-açúcar tem sido amplamente reconhecida por seu potencial na mitigação das emissões de carbono, fortalecendo a posição do Brasil como líder mundial nesse segmento.
Nesse contexto, a produção de etanol a partir da cana-de-açúcar não só garante uma fonte renovável de energia, mas também contribui para a diversificação da matriz energética brasileira, fortalecendo a sua independência de combustíveis fósseis.
Além disso, declarações do Ministério de Minas e Energia (MME) sugerem uma possível iniciativa para aumentar o teor de etanol na gasolina. Esse projeto resultará em uma demanda ainda maior por etanol no mercado interno, ampliando as oportunidades para produtores e fortalecendo a economia canavieira.
Desse modo, as perspectivas para o mercado de etanol são otimistas. Com as políticas públicas voltadas para a promoção do uso de energias renováveis e com a crescente preocupação global em relação às mudanças climáticas, o etanol produzido a partir da cana-de-açúcar tem tudo para consolidar ainda mais sua relevância no panorama energético nacional e internacional.
Preços do etanol e do açúcar: cenário é favorável para o canavicultor?
A paridade de preços entre gasolina e etanol influencia o valor de mercado da cana-de-açúcar. Os preços do açúcar e do etanol, tanto no mercado interno quanto externo, refletem essa dinâmica.
Preços do açúcar
Os preços do açúcar demonstraram uma tendência decrescente no mercado interno, com uma notável diminuição de junho para julho. Esse comportamento já era previsto, tendo em vista o início da colheita da safra 2023/24. Entretanto, essa queda desacelerou em agosto, sofrendo uma redução de apenas 1,3% em relação ao mês anterior.
Fonte: Análise Mensal – Cana-de-açúcar – Conab.
Esse cenário foi moldado pela firme postura dos usineiros em negociações, agindo como um baluarte para estabilizar os preços nos meses de alta safra, com justificativas centradas na apreciação do açúcar no mercado interno, devido à antecipação de restrições na oferta internacional.
Uma produção ampliada de cana irá consequentemente aumentar a quantidade de açúcar, prevendo-se um crescimento de 10,4% em comparação à safra anterior, marcando o segundo maior registro histórico da Conab. Esse aumento se deve, em grande parte, à contínua preferência pela produção do adoçante, respaldada por um mercado em alta e com demanda robusta, tanto nacional quanto internacionalmente.
Para o final de 2023 e início de 2024, os preços do açúcar no Brasil devem sofrer influência das incertezas climáticas no cenário internacional e do aumento das exportações, bem como do progresso da colheita da safra atual, com expectativa de crescimento da produção.
Assim, a expectativa é de estabilidade com tendência de queda moderada nos preços domésticos. A previsão de aumento na produção de cana na safra corrente pode levar a reduções nos preços, embora este efeito seja atenuado pelos preços crescentes no mercado externo.
Preços do etanol
Em relação ao etanol, a dinâmica dos preços em junho seguiu um padrão semelhante ao do açúcar, com declínios associados à ampliação do rendimento da safra brasileira 2023/24, devido às melhores condições climáticas que beneficiam a colheita.
Fonte: Análise Mensal – Cana-de-açúcar – Conab.
No entanto, na segunda metade de agosto, observou-se um retorno às variações positivas, com um decréscimo mensal bem abaixo do registrado em julho. Esse comportamento foi fortemente influenciado pela ascensão nos preços do petróleo, ligada a especulações de uma possível diminuição na oferta global desse combustível fóssil.
Os preços do etanol no mercado brasileiro também devem ser influenciados pelo retorno da cobrança de impostos federais, pelo aumento das exportações e pela redução das importações no primeiro trimestre, além do aumento das cotações do petróleo no mercado internacional e da produção canavieira no país. Dessa maneira, a expectativa é de valorização do etanol no mercado interno.
A economia gerada pelos derivados da cana-de-açúcar, o açúcar e o etanol, demonstra uma interconexão intrincada com vários fatores, variando desde condições climáticas até cenários internacionais de oferta e demanda. Com o Brasil sendo uma potência em ambas as produções, é crucial acompanhar de perto essas tendências e fatores para entender e antecipar os movimentos do mercado.
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